segunda-feira, 23 de julho de 2012

Bradesco desaponta no 2o tri, quer manter rentabilidade

BradescoSÃO PAULO (Reuters) - Aumento da eficiência e das receitas com tarifas foi a receita sinalizada pelo Bradesco para enfrentar um mix de crédito fraco e calotes em alta, que fizeram o banco reportar lucro do segundo trimestre abaixo do previsto pelo mercado.

Refletindo a frágil atividade econômica no período, o segundo maior banco privado do país viu sua carteira de crédito crescer 14,1 por cento no comparativo anual, a 364,96 bilhões de reais, em ritmo inferior ao que previu para o ano.

"A retomada da economia foi postergada mais para a frente", disse o presidente-executivo do grupo, Luiz Carlos Trabuco, em teleconferência com jornalistas.

Isso, mesmo com o governo pressionando os bancos a reduzir os custos de financiamento a partir de abril, com os estatais Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal à frente.

Mas não foi só a expansão lenta do crédito o único fator a pesar no resultado do Bradesco. Os calotes, medidos pelas operações vencidas há mais de 90 dias, atingiram 4,2 por cento entre abril e junho, ante 3,7 por cento em igual período de 2011. Foi o quinto trimestre seguido de alta.

O movimento foi puxado por um surpreendente aumento na inadimplência no segmento de grandes empresas, cuja taxa pulou de 0,4 para 0,9 por cento de março para junho. "Foi um ajuste preventivo na carteira de grandes empresas", disse Trabuco, referindo-se a uma reclassificação da carteira e que o movimento não preocupa, pois é pontual.

Já no varejo e nas micro, pequenas e médias empresas, os índices ficaram estáveis em 6,2 e 4,2 por cento, respectivamente, na base sequencial, embora tenham crescido 0,5 ponto percentual no ano a ano.

Com o aumento na inadimplência, as despesas do banco com provisões para perdas com devedores somaram 3,4 bilhões de reais no período, volume 39,8 por cento maior ante igual etapa de 2011.

EXPECTATIVA DE MELHORA

"A queda da Selic e o maior dinamismo da economia no segundo semestre devem melhorar os números de inadimplência", disse Trabuco, explicando que o banco deve se concentrar na linhas mais seguras de crédito para garantir a qualidade da carteira.

De fato, a desaceleração nos empréstimos mais arriscados (cheque especial, cartão de crédito, automotivo) e o foco nas mais seguras (imobiliário, consignado) protegeu o banco de ter que fazer provisões ainda maiores para perdas.

Além disso, a queda nos custos de captação, pontuada pelo declínio da Selic, não foi totalmente repassada aos clientes. Com isso, a receita com juros, livre de custos de captação, somou 7,36 bilhões de reais no trimestre, um aumento de 12,4 por cento no comparativo anual. A previsão de expansão da margem financeira foi mantida entre 10 a 14 por cento para o ano.

"As linhas de cima (do balanço) vieram boas, especialmente se considerarmos a preocupação com a pressão do mercado sobre queda dos spreads", comentaram os analistas Saul Martinez, Domingos Falavina e Christopher Delgado, em relatório do JPMorgan.

Assim, o Bradesco teve no período lucro líquido de 2,83 bilhões de reais, avanço de 1,7 por cento sobre o mesmo período de 2011. O lucro recorrente somou 2,867 bilhões de reais, ante expectativa média de 11 analistas consultados pela Reuters, de 2,92 bilhões de reais.

O banco encerrou o segundo trimestre com ativos totais de 830,52 bilhões de reais, expansão de 20,5 por cento sobre o mesmo período de 2011.

REAÇÃO

Num dia de fortes quedas nos mercados acionários, devido a renovados temores com a crise financeira na zona do euro, as ações de bancos estavam entre os destaques negativos da Bovespa.

Com a última linha do resultado menor do que as expectativas, os investidores aproveitaram o balanço para bater com mais força nas ações do Bradesco, que desabavam 4,6 por cento, a 29,13 reais, às 15h07. No mesmo instante, o Ibovespa cedia 2,22 por cento. Mais cedo, o papel chegou a recuar mais de 6 por cento.

Analistas, contudo destacaram que o balanço trouxe um mix de dados negativos e animadores. O Barclays, por exemplo, frisou o crescimento anual de 14 por cento das receitas com tarifas, para 4,28 bilhões de reais.

O Bradesco, inclusive, elevou a previsão de crescimento dessa linha no acumulado de 2012, de 8 a 12 por cento para 10 a 14 por cento.

Em outra frente, o índice de eficiência operacional apresentou uma melhora de 0,3 ponto percentual, recuando 0,3 ponto percentual em doze meses, para 42,4 por cento. Maiores ganhos de eficiência são um dos ingredientes com os quais o banco pretende manter o índice de retorno sobre patrimônio líquido médio (ROE) na casa dos 20 por cento.

"Para falar a verdade, os resultados foram decentes, afinal de contas, mas o mercado pode estar mostrando reações mistas", comentou em relatório o analista do Barclays, Fabio Zagatti.

O ROE do Bradesco ficou em 20,6 por cento, ante 23,2 por cento no segundo trimestre de 2011. E a tendência de queda desse indicador tem sido um dos temores do mercado, na esteira de um ciclo de cortes de juros no setor bancário.

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