quarta-feira, 25 de abril de 2012

Estudo vai avaliar estado de saúde dos adolescentes brasileiros

do Portal oglobo/saude:
Objetivo é identificar fatores de risco de doenças cardiovasculares e diabetes

RIO - O estilo de vida no Brasil está mudando e, com ele, os números de males como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares na população estão crescendo, consequência dos maus hábitos alimentares e da grande proporção do sedentarismo. Para entender qual a influência desses comportamentos, entre outros, no estado de saúde dos adolescentes, começa nesta quarta-feira uma das maiores avaliações desta faixa etária no país, o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica). Encomendado pelo Ministério da Saúde, o Erica vai visitar escolas de todas as regiões, pesquisando um total de 75 mil jovens.

- O objetivo é conhecer quantos adolescentes têm problemas considerados fatores de risco de doenças cardiovasculares e orientar políticas de atenção a esta faixa etária. Poderemos avaliar a melhor forma de intervir: incentivar a prática de atividade física? Melhorar a alimentação? - explica Kátia Bloch, pesquisadora da UFRJ e coordenadora executiva do projeto: - Como vamos visitar escolas de todo o país, teremos uma amostra representativa das regiões, pois poderemos comparar os dados com diferenças socioeconômicas, por exemplo.

O projeto envolve especialistas de 23 instituições de pesquisa, universidades e hospitais. Eles vão examinar e aplicar questionários a alunos de 12 a 17 anos, começando pelos cariocas. Nesta quarta, visitam a Escola Municipal Alencastro Guimarães, em Copacabana. Os testes vão medir os índices e traçar perfis da prática de atividades físicas, consumo de álcool, tabagismo, hábitos alimentares e histórico familiar de doenças. Além disso, os adolescentes passarão por medição de cintura, peso, estatura, pressão arterial e exames de sangue, que avaliarão a presença de indicadores de diabetes, obesidade, risco cardiovascular e inflamatórios. Os responsáveis também vão responder a questionários, para confirmar algumas informações.

Além do Rio, onde mais duas escolas serão visitadas nos próximos dias, a primeira etapa do projeto inclui quatro cidades: Feira de Santana, na Bahia; Cuiabá, no Mato Grosso do Sul; e Campinas e Botucatu, em São Paulo. A expectativa é de que, até o fim do primeiro semestre, 1200 alunos sejam avaliados. A partir daí, os pesquisadores vão avaliar a metodologia para estender o projeto a todo o país. O prazo para encerrar o projeto é 2015.

- Esse tipo de dado no Brasil é recente. Esse estudo dará uma ampla dimensão de como vai a saúde dos jovens brasileiros e, depois de encerrado, voltaremos a algumas das cidades para fazer um acompanhamento de certas subamostras - conclui Kátia.

No Rio, número de jovens com sobrepeso e obesidade mais que dobrou em 25 anos

Enquanto os resultados não são divulgados, no Rio, os especialistas podem se debruçar sobre os novos dados do “Estudo do Rio de Janeiro”. Realizado a partir 1987, o projeto acompanhou 3.906 meninos e meninas entre 10 e 15 anos de diversas partes do Grande Rio, para mostrar a evolução do número de pessoas que chegam à vida adulta com problemas cardiovasculares relacionados à obesidade.

O estudo está em fase de encerramento e, 25 anos depois de ser iniciado, mostra que 30% da população acompanhada têm pressão alta e 40%, sobrepeso e obesidade. Esses números eram de 9% e 15%, respectivamente, quando os voluntários ainda eram adolescentes.

- Os que tinham hipertensão aliada a sobrepeso ou obesidade apresentaram até quatro vezes mais chances de permanecerem com o mesmo perfil na fase adulta - explica Roberto Pozzan, um dos autores do estudo.

Um dos problemas identificados nesta fase final do estudo foi o enrijecimento precoce das artérias, comum a partir dos 40 anos: 30% dos voluntários entre 25 e 30 anos apresentaram este quadro, consequência da hipertensão e do sobrepeso, que aumentam a produção de substâncias inflamatórias facilitando a aderência de placas de gordura nas paredes das artérias, o que diminui a flexibilidade dos vasos. Pozzan explica que as consequências podem ser infarto, derrame, desenvolvimento de doença renal, dificuldade de lidar com o estresse físico e atividades cotidianas, como subir escadas.

Segundo o especialista, o crescimento do número de jovens em situação de risco está relacionado, entre outras coisas, com a expansão do poder de compra, o que leva a hábitos alimentares errados, como maior consumo de fast food, por exemplo. Os voluntários foram avaliados em cinco etapas diferentes e acompanhados em locais como a escola e as próprias casas, para avaliar hábitos alimentares, rotina e o perfil clínico dos familiares. O sedentarismo não teve muita influência no aumento do número de jovens em situação de risco, já que todos praticavam atividades físicas das escolas. No entanto, isso não ocorreu com a alimentação.

- Ficou claro como os hábitos de vida dos adultos influenciam os dos adolescentes em casa - alerta Pozzan.

Os dados serão apresentados no Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro, que começa na próxima quinta-feira.

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