Dilma Rousseff procura mostrar um estilo firme na substituição de ministros acusados de irregularidades |
Brasília (AE) - A aprovação pessoal da presidenta Dilma Rousseff subiu cinco pontos em três meses e chegou aos 77%, revelou ontem a nova pesquisa CNI/Ibope. É um índice superior ao que tinham, neste mesmo período de governo, os seus dois antecessores. Fernando Henrique Cardoso havia alcançado 57% e Luiz Inácio Lula da Silva, 60%. A avaliação de governo se manteve no patamar de dezembro, com 56% de "ótimo" e "bom". A administração foi considerada "regular" por 34% dos consultados, e outros 8% a definiram como "péssima".
A exemplo de Lula, foi também no Nordeste que Dilma obteve sua maior aprovação: 82%, seis pontos porcentuais acima do conseguido na pesquisa anterior. Essa média é maior também em cidades pequenas, onde alcança 79%. No Sudeste, a popularidade da presidenta saltou de 69% para 75% entre dezembro e agora.
A pesquisa mostrou, ainda, que a atual política de combate à inflação é aprovada por 42% dos consultados (eram 39% em dezembro). As medidas adotadas pelo governo contra a pobreza e a fome são aprovadas por 59%.
Ao lado das boas notícias para a presidenta, a pesquisa aponta, em seu conjunto de políticas, alguns números negativos, principalmente no que se refere à carga tributária, juros, saúde e segurança. A carga tributária é considerada alta por 65%. A atual situação da saúde é reprovada por 63%, a política de juros é rejeitada por 55% e 61% criticam a política de segurança.
"O estilo da presidenta, mostrando firmeza na substituição de ministros e no relacionamento com a base aliada no Congresso, parece estar tendo uma empatia melhor com a população, que vê Dilma Rousseff mais presente na administração do governo", disse, sobre os novos números, o gerente executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria, Flávio Castelo Branco. Segundo ele, "a leitura é que ela transmite para a população uma personalidade própria, com característica diferente em relação ao antecessor".
Indicadores de bem-estar são favoráveis
A aprovação recorde de 77% da presidenta Dilma Rousseff, divulgada nesta quarta-feira pela pesquisa CNI/Ibope, é vista pelos analistas políticos como um indicador do bem-estar da população diante dos altos níveis de emprego e da elevada expectativa de consumo. Para os cientistas, independentemente da firmeza de Dilma no trato com a classe política e seu "estilo próprio de governar", a popularidade da presidenta e de seu governo continuará em alta enquanto o desemprego estiver em baixa e o brasileiro se mantiver disposto a gastar."O principal ponto da pesquisa é que o brasileiro está muito bem, obrigado, e a pesquisa é um indicador de bem-estar", resumiu o cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fernando Abrucio.
Com os números da economia apontando que o País se aproxima do pleno emprego (a taxa oficial de desemprego divulgada pelo IBGE registrou 5,70% de desemprego em fevereiro), que a massa salarial cresceu e que há uma ascensão da classe C, a população percebe que não houve decréscimo de sua qualidade de vida durante o governo Dilma. "Enquanto o desemprego e o consumo tiverem índices altos, a popularidade estará alta", avaliou Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). "Se o desemprego fosse alto e a expectativa de consumo fosse baixa, não teria faxina ou atributo pessoal nenhum que segurasse essa aprovação", emendou.
Rafael Cortez, da Tendências Consultoria Integrada, acredita que Dilma se beneficia não só da situação econômica do País, mas também de seu embate com a base aliada. "A presidenta tem uma imagem positiva junto ao eleitorado que decorre em parte do aquecimento do mercado de trabalho, mas tem sua explicação central na imagem de que Dilma tem baixa tolerância com o Congresso", afirmou.
Para Fernando Abrucio, a imagem que a população tem do Congresso já é ruim e, ao ser confrontada pelos aliados no Parlamento, Dilma ganhou o respaldo imediato do eleitorado. "Quando o Congresso tenta emparedar a presidenta e ela age de maneira sóbria e séria, a população fica do lado da presidenta", analisou. "Os eleitores olham para o Congresso e veem chantagem, um Congresso que não consegue se autopunir", concordou Melo. A tendência, segundo Abrucio, é de que o caso envolvendo o senador Demóstenes Torres (ex-DEM/GO) agrave a visão que a população tem do legislativo. "A imagem do Congresso é muito ruim e o caso Demóstenes não se restringe ao senador. O caso dele afeta ainda mais a imagem do Congresso", completou.
Os analistas acreditam que o alto nível de aprovação pessoal indica também que Dilma agrada lulistas e antilulistas, satisfaz o eleitorado que reprova o comportamento dos parlamentares e os que avaliam como positiva a política econômica e seu estilo próprio de governar. "Ela se favorece, seja de uma forma ou de outra. Ela soma ao invés de subtrair", afirmou Abrucio.
Impostos
O que mais chamou a atenção dos cientistas políticos foi o item da pesquisa que apontou que 65% dos entrevistados estão insatisfeitos com a carga tributária. "Isso é recente e tem a ver com a ascensão da classe C, que se deu conta de que paga mais impostos", disse o analista da FGV. "Hoje, com a carteira assinada, o brasileiro vê os descontos no contracheque", apontou Melo. A pesquisa CNI/Ibope também colocou as áreas da saúde e segurança como setores em que o governo federal é reprovado, mas, de acordo com Abrucio, esses dois temas estão entre as grandes preocupações dos brasileiros nos últimos 10 anos.
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